A reforma eclesiástica
Assim como o cristianismo do século XVI estava em decadência, manchado pela imoralidade de seu clero, escândalos de simonia, venda de indulgências, sede de poder, distorção doutrinária e podridão espiritual, as igrejas evangélicas brasileiras padecem, hoje, de males semelhantes ou até piores que aqueles. O misticismo, antropocentrismo, materialismo, curandeirismo, entre tantos “ismos”, estão deixando a seara evangélica inflamada, cuja infecção alcança desde o mais preparados teólogos e pastores até o mais simples leigo.
Teólogos que deveriam diagnosticar a infecção, apenas aplicam um analgésico, deixando incubada a infecção; que não sendo tratada, volta com força devastadora, e em cada época o estado do doente – leia-se igrejas brasileiras – aproxima-se cada vez mais do estado terminal.
Feliz foi Lutero que conseguiu identificar a causa que resultou num remédio cujo tratamento provocou uma reforma maravilhosa, extirpando a causa, dando novo fôlego à igreja do século XVI. Lutero identificou a origem através do sintoma. A igreja brasileira precisa de teólogos e pastores que não somente ataquem os sintomas; mas que, através de métodos adequados, identifiquem as causas e combatê-las, veementemente. Assim fez Lutero, identificou a decadência do clero refletido no sintoma da venda de indulgências! Que o medo de denunciar não nos detenha, mas que tenhamos coragem de identificar a origem dos problemas atuais e atacá-los, promovendo uma reforma na igreja contemporânea.
Existe uma distorção entre o cristianismo vivido na atualidade e o demonstrado nos evangelhos. O cristianismo evangélico brasileiro e latino-americano está infectado com um vírus que precisa ser combatido urgentemente. Mas existem poucos teólogos realmente preocupados em descobrir uma vacina correta para livrar o cristianismo desse vírus.
O sintoma que Lutero identificou baseava-se no engano da venda de indulgências, por isso, suas noventa e cinco teses tiveram como escopo atingir as causas do mal: que era a luxúria e acomodação do clero da igreja.
O pensamento de Lutero revolucionou uma época e conduziu a um avivamento tão marcante que atingiu toda uma sociedade, aliás, dando forma à sociedade ocidental atual.
Mas quais são as causas que provocam tão grande estrago na seara evangélica? Quais os parâmetros para análise? Como filtrar os sintomas para diagnosticá-lo corretamente?
Esse é o grande desafio, pois, muitos teólogos e pastores que estão sendo formados têm como objetivo aderir ao atual sistema eclesiástico, perpetuando o estado atual; aliás, até ratificando tais procedimentos, quando dizem não à reflexão e à correção da rota da igreja.
Muitos almejam a ostentação de um título como passaporte para manter-se numa estrutura eclesiástica doente e moribunda.
Onde estão as vozes proféticas dos teólogos que, com conhecimento apurado, deveriam combater os desajustes do cristianismo e lutar, combater um bom combate, visando uma profunda reforma no contexto atual? Não sei!!
A não conformidade deve ser a tônica, mesmo que isso resulte, como aconteceu a Lutero, em incompreensão, rejeição, perseguição e, até ex-comunhão e não a adesão e conformação do estado caótico da igreja brasileira.
Para começar precisamos de parâmetros. E quais são eles? São aqueles extraídos das Sagradas Escrituras. Portanto, podemos nos pautar dos princípios que guiaram a reforma do século XVI: (1) Sola Scriptura – somente pela Bíblia; (2) Solo Christo – somente por Cristo; (3) Sola Gratia – Somente pela graça; (4) Sola Fide – Somente pela fé; e (5) Soli Deo Gloria – Somente para a glória de Deus.
Assim, a causa pode ser identificada e a aplicação de tais parâmetros nos dará uma proposta de reforma que possa impactar, de fato, a igreja brasileira.
Vou citar apenas minha visão, extraída do “Manifesto à Sociedade Brasileira”, que, penso, é o centro e a vertente principal que promove a desgraça atual da igreja brasileira: “Protestamos contra a pregação de uma graça barata que não fala do arrependimento dos pecados e da necessidade do poder transformador de Deus para viver a vida cristã”. A aplicação correta da Bíblia Sagrada pode curar a igreja, pois “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Prov. 29.18).
Com isso o ponto de partida para uma reforma é protestar contra o mau uso da Bíblia Sagrada, manuseada pura e simplesmente, para enganar e ludibriar o povo.
Assim estamos á frente de uma reforma que paute por uma pregação correta da Bíblia Sagrada, anunciando a vontade de Deus para o bem estar de seu povo, sem negligenciar suas necessidades.
rci//rv
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