sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pastor discipulador


Recentemente tive  a oportunidade de conversa com o fundador e diretor de uma das maiores empresas de Guarulhos sp. Por muitos anos essa firma tem servido um número sempre crescente de pessoas. Apesar disso ele estava insatisfeito por considerar que poderiam estar crescendo muito mais rápido do que estavam.

- O problema, disse ele, é que a maioria dos gerentes de nível médio tenta realizar todo o trabalho sozinhos, ao invés de treinar e supervisionar seus subordinados(lembre-se do dicipulado). Consequentemente estas pessoas pouco fazem além de observar e criticar o trabalho de seus supervisores.

Perguntei se ele havia expressado sua opinião aos seus gerentes ou fornecido algum treinamento a eles. Ele respondeu que a lista de atribuições de trabalho abordava o assunto de maneira clara. Mas também admitiu que, infelizmente, a maior parte de seus gerentes de  nível medio havia falhado em treinar os outros pessoas de nível médio em tal área.

- Por que você não os despede e coloca novos gerentes em ambos os níveis?

- Bem, ele respondeu, eu suponho que poderia fazê-lo, mas a organização é tão grande que acho melhor deixá-los em seus lugares e tentar fazer com que os novos gerentes de nível médio desenvolvam e utilizem práticas de treinamento e supervisão ao invés de tentarem fazer todo o trabalho sozinhos:

- O que você me diz sobre os funcionários que estes gerentes deveriam estar orientando? Você vai permitir que eles continuem sendo pagos sem produzir nada? Por que você pelo menos não se desfaz de alguns para reduzir suas despesas?, perguntei a ele.

- Não é tão simples assim, ele explicou. Quando eles foram admitidos pela empresa, fiz algumas promessas em relação à estabilidade no trabalho, e não quero voltar atrás em minha palavra, mesmo que eles não realizem seus trabalhos de forma eficaz.

E foi mais ou menos essa a conversa que tive com Deus. Substituí alguns termos. Por exemplo, no lugar de "reino" usei a palavra "empresa", e ao invés de "pastor", utilizei "gerente de nível médio", mas o significado era basicamente o mesmo. O que nunca consideraríamos aceitável por parte dos gerentes de firmas do mundo é comum para os pastores do reino de Deus e tenho a impressão de que Ele não está nada satisfeito!

O que eu quero dizer com isso? Que na lista de atribuições de trabalho de pastor tem uma parte que diz o seguinte: "... pastores e mestres, para preparar o povo de Deus para o desempenho do seu serviço" (Efésios 4.11-12), e da mesma maneira "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações..." (Mateus 28.19). Entretanto, ao invés de pastores estarem preparando o povo de Deus, encontramos esse mesmo povo com a expectativa de que seus líderes façam todo o trabalho ministerial sozinhos; e também vemos ministros abandonando o chamado de Deus (chamado este para treinar e orientar ao povo, como pastores ao lado do rebanho).

JESUS: UM MODELO DE PASTOR

A vida e ministério de Jesus deveria ser o exemplo a ser seguido por todo e qualquer cristão, principalmente por pastores. Um pastor pode não ter o dom de andar sobre as águas, ou de alimentar 5000 pessoas como Jesus, porém se tiver o chamado genuíno de Deus para o ministério, então certamente terá os dons e a responsabilidade necessária para fazer discípulos. Jesus deve ser nosso exemplo.

Imagine se a programação semanal de Jesus fosse assim distribuída: terças e quartas, cura de enfermos por duas horas; sábados, encontro com os discípulos por uma hora para discussão sobre orçamento financeiro; quartas à noite, reunião com o comitê de crescimento da igreja; e o restante da semana gasto no escritório, preparando os cultos da sinagoga e procurando a solução de eventuais problemas.

Na realidade, o que Jesus fez foi andar por zonas rurais e várias cidades em companhia de seus discípulos. Eles viveram e ministraram juntos por três anos. Jesus transmitiu-lhes o que fazer e mostrou-lhes como; enviou-os para que realizassem essa tarefa, sem contudo estar presente. Eles retornaram com relatórios de seus feitos, e a partir daí Jesus permitiu que conduzissem seus próprios ministérios. Isso É discipulado.

Jesus não confiava na multidão que o seguia, mesmo durante a época em que sua popularidade estava no auge. Não se curvou diante das concepções tradicionais errôneas do povo e dos líderes religiosos. Não se promoveu nem tentou impressioná-los com um grande espetáculo, ao contrário, investiu a maior parte do tempo com seus discípulos.

As prioridades de nosso pastorado estão geralmente fora de ordem. Deveríamos seguir mais fielmente o exemplo de nosso Senhor, investindo nosso tempo no discipulado de "homens idôneos para ensinar a outros" (2 Tm. 2.2). Devemos sem sombra de dúvida estudar e preparar bons sermões, fazer visitas, e participar de reuniões organizacionais. Porém o tempo despendido com estas atividades não deve interferir no discipulado de pessoas.

IMPECILHOS AO DISCIPULADO

Creio que um dos maiores impedimentos para que pastores discipulem eficazmente é o fato de nunca terem sido discipulados. E difícil dar orientações sobre algo que você mesmo nunca experimentou. A maioria dos pastores que deseja colocar o discipulado em prática, estará penetrando no desconhecido ao iniciar este trabalho. Provavelmente sentirão um certo receio de falhar. E mais fácil simplesmente fazer o que nossa igreja ou denominação espera de nós, do que arriscar um novo estilo de ministério não familiar.

Existe em nossas igrejas uma falta de bons e práticos métodos de discipulado. Por este motivo os pastores não sabem por onde começar.

RESULTADOS OTIMISTAS

O que é discipular? Um discípulo é um seguidor. Alguém que já foi discipulado numa determinada área de ministério aprendeu com o discipulador como ministrá-la, e conseguiu realizar tal ministério com sucesso, e está então habilitado a continuar ministrando sozinho. Possivelmente também estará apto para discipular outros naquela mesma área. O poder do Espírito Santo é de importância vital, tanto na vida do discípulo como na do discipulador. É debaixo da Sua direção que iremos selecionar ou desenvolver o melhor método de discipulado.

Devemos selecionar um método de discipulado que tenha a maior probabilidade de sucesso no contexto de nosso discípulo. Pela graça de Deus há uma variedade de métodos que têm servido para discipular, mas isso não significa que todos sejam apropriados para serem usados com seus discípulos. Algumas pessoas costumam dizer "estou discipulando na área de missões", quando na verdade estão apenas lecionando em uma classe de missões; ou ainda, "estou discipulando jovens", quando apenas jogam futebol com eles aos sábados.

No primeiro caso, basicamente o que acontece é uma transmissão de informações. Apenas um pequeno número de pessoas poderá colocar em prática o tipo de informações recebidas em sala de aula. E tais pessoas, são raras!

No segundo caso, ao jogar futebol, o "pretenso" discipulador caminha para um relacionamento mais profundo com os jovens. A transmissão de informações e um aprofundar de relacionamento compõem dois dos mais importantes elementos do discipulado. Entretanto, creio que nossos métodos tornam-se ainda muito mais eficazes ao serem somados a outros "pilares" do discipulado.

OS SEIS "PILARES" DO DISCIPULADO

Nós somos "templos de Deus". Jesus é o alicerce e Paulo diz que o que vier à ser construído sobre tal base, ficará firme. Portanto, tendo Jesus como base, podemos nos utilizar de seis elementos principais que chamaremos "pilares" do discipulado.

Quais são os "pilares" de um discipulado bem sucedido? São os que já vimos no método de discipulado de Jesus: (1) Ele desenvolveu um relacionamento sólido com os discípulos; (2) Ele transmitiu-lhes informações verbalmente; (3) Mostrou-lhes como realizar através de seu exemplo; (4) Ele os enviou para praticarem suas habilidades ministeriais; (5) Eles trouxeram um relatório sobre seus feitos; (6) Jesus levou-os a prosseguir em tal ministério sozinhos, de modo a fazerem mais discípulos (Mateus 28.18-20).

MÉTODOS DE DISCIPULADO

Que método de discipulado você gostaria de tentar colocar em prática? Quais as formas usadas com sucesso? Sabemos que muitas delas têm sido eficazes. A maior igreja do mundo, a da Korea, adotou o método de pequenos grupos de oração. Os primeiros metodistas reuniam-se não só para orar, mas também para confessarem e exortarem-se mutuamente, uma vez por semana, em pequenos grupos. Há igrejas que utilizam reuniões de estudo bíblico nos lares. Outros encontram-se semanalmente para estudar com uma pessoa ou em pequenos grupos. Eles conversam sobre o desenvolvimento espiritual, e recebem instrução e encorajamento.

Entretanto, o fato desses métodos terem sido bem sucedidos para alguns não significa que sua escolha deva ser um deles. Em geral eles não possuem todos os elementos do método que Jesus utilizou com os discípulos. Se desenvolvermos um modelo que inclua todos os seis tópicos de Jesus e eles forem bem adaptados à situação de nossos prováveis discípulos, estou convencido que nossos esforços redundarão em frutos abundantes e duradouros.

MODELO DE MINISTÉRIO ESPECÍFICO

Um dos métodos mais bem sucedidos para se discipular um grupo de pessoas é envolver tal grupo em um ministério específico. Evangelismo, música, ministério com os pobres, etc, são algumas opções. No processo deste ministério, o líder deverá gastar bastante tempo com o grupo, desenvolvendo assim um forte relacionamento. Ele deverá transmitir informações, e ao mesmo tempo ensinar como atingir os objetivos do ministério. Normalmente mostrará como realizar o ministério, e então o executará juntamente com eles. Muitas vezes serão enviados para o ministério para o qual foram treinados. Dois exemplos deste tipo de método são "Vencedores por Cristo" e "OM-Operação Mobilização" com seu navio Doulos (e Logos, que naufragou recentemente).

Eu recomendo aos pastores que encoragem seu rebanho a participar de tais ministérios, pois eles proporcionam experiências transformadoras de vidas e oferecem discipulados efetivos. Entretanto, apesar de apoiar totalmente estas formas de ministério, noto nelas duas desvantagens que implicam na necessidade de utilização paralela de outros métodos. Uma delas é que, pelo fato da maioria dos ministérios específicos exigir uma grande dedicação de tempo e deslocamento do local, apenas uma pequena parte dos membros de nossas igrejas pode se enquadrar em seus horários e no estilo de vida requerido.

A parte dos líderes profissionais desses ministérios, em geral, a grande maioria dos participantes, é formada por jovens que não trabalham e não possuem responsabilidades familiares.

A outra desvantagem é que tais ministérios muitas vezes não atingem o alvo de preparar seus participantes para o trabalho propriamente dito, ou seja, como leigo ou pastor atuante no âmbito da igreja. Pelo fato desses ministérios específicos muitas vezes reunirem grupos de jovens empolgados e dedicados (que trabalham arduamente para o reino), acaba se tornando difícil uma nova adaptação ao trabalho no contexto de nossas igrejas. Isto deve-se ao fato delas possuírem grupos de idades variadas, tradições, pessoas convertidas, também os não convertidos, menor entusiasmo, objetivos indefinidos, e um pequeno número de pessoas que estão realmente interessadas em crescer espiritualmente. Falo por experiência, pois eu mesmo fui treinado por um grupo de ministério específico e mais tarde ministrei em igrejas das duas formas: como leigo e, mais tarde, também como pastor. Precisamos de métodos que incluam todos os pilares do discipulado, mas também precisamos trabalhar dentro do contexto da nossa igreja local.

MÉTODOS DE CURTO E LONGO PRAZO

Para o pastor da igreja local, ambos os métodos de longo e curto prazo (intensivo) podem funcionar bem. O de curto prazo possui estruturas que visam transmitir uma série de informações e fazer muitas mudanças na vida dos participantes num curto período de tempo (digamos, dois meses ou menos). O modelo de longo prazo utiliza reuniões semanais para instrução e ministério em comum. Ambos os métodos têm suas vantagens e desvantagens.

O método de curto prazo possui a vantagem de ter compromissos intensivos que prometem resultados rápidos. Os participantes sabem que terão uma programação intensa, mas por um curto espaço de tempo. As duas maiores dificuldades são: (1) os participantes ficam sobrecarregados com tantas informações e torna-se difícil lembrarem de todas elas; com isso podem sentir-se derrotados; e (2) pelo fato do método de curto prazo possuir um programa intenso e terminar rapidamente não se adapta a uma programação normal, apresentando, com o passar do tempo, falhas para incorporar grande parte do que se aprendeu.

O método de longo prazo não toma muito tempo durante a semana, e portanto atrai mais facilmente, um maior número de participantes. Entretanto, às vezes as pessoas ficam relutantes em participar de um compromisso de longo prazo que irá "prendê-los", por exemplo, todas as noites de quinta-feira e as manhãs de sábado, e optam pelo método de curto prazo. O de longo prazo tende a ser melhor no sentido de incorporar o aprendizado à programação habitual dos participantes.

Atualmente tenho utilizado um método chamado "discipulado intensivo parcelado". O professor gasta um fim de semana instruindo e ministrando a um grupo de pessoas que deseja crescer espiritualmente. O pastor normalmente participa com eles. Para que os participantes não sintam-se perdidos ou derrotados, o professor procura transmitir apenas o suficiente para aplicarem durante as semanas que se seguirão. Cada um recebe tarefas que refletirão o que fizeram sob supervisão durante o fim de semana. As tarefas em geral adaptam-se às programações dos participantes, pois não exigem muito tempo.

Terminado o fim de semana, o professor deixa as pessoas nas mãos do pastor ou de outros líderes responsáveis que se reunirão semanalmente com o pequeno grupo para encorajar e checar se os participantes estão cumprindo suas tarefas. Após um mês, o professor retorna para outro fim de semana, com novo material.

Este processo, dá ao pastor e a outros líderes, a chance de não somente observar, mas também envolver-se em um método de discipulado. Eles fornecem os pilares do bom método de discipulado apresentando um "relacionamento forte" e "o aplicar reportar" enquanto o professor entra com a experiência em discipulado, estrutura geral, conteúdo do programa, comunicação, demonstração e tarefas de treinamento. Depois de alguns meses, os pastores e outros líderes sentirão segurança em continuar com o trabalho sozinhos, sem a presença do professor.

O QUE É SUCESSO?

Tenho utilizado todos os métodos já citados com variações de sucesso. Estou aprendendo (e tentando sentir-me seguro com isto) que nem todos os participantes de um programa de discipulado se tornarão bons discípulos. O que se entende por um ótimo resultado? O que é sucesso? Vamos supor que eu vá discipular um grupo com 10 pessoas que se dizem interessadas em crescer espiritualmente e desejam encontrar-se comigo regularmente (note que esta disposição por parte deles já os diferencia dos simples "freqüentadores de igreja").

Se eu os colocasse como participantes de um dos métodos, longo ou curto prazo, ou ainda do "discipulado intensivo parcelado" com todos os seis pilares do discipulado, eu poderia afirmar a mim mesmo que teria sido bem sucedido se.ao final:

- 7 dos 10 completassem o curso

- 4 dos 7 viessem a colocar em prática grande parte dos tópicos discutidos

- Uma das 4 continuasse discipulando outros nos anos seguintes

RESULTADOS FINAIS

Este pode não ser seu conceito de sucesso e quem sabe, você consiga resultados melhores, mas tenho descoberto que estas "respostas" têm feito toda diferença para mim, quando vejo os últimos resultados de meu ministério e sinto que estou fazendo algo de valor. Olhando para trás, para anos passados e para diferentes lugares, geralmente não se nota qualquer diferença nas vidas dos que simplesmente freqüentavam os cultos regulares de louvor e comunhão das igrejas. Achei interessante quando George Gallup comunicou recentemente num artigo o resultado de suas pesquisas. Elas revelaram que o simples ir à igreja, não causa diferença alguma no dia a dia da maioria dos "freqüentadores de igreja" dos Estados Unidos. Entretanto os que têm desenvolvido uma continuidade de crescimento, têm apresentado diferenças em suas próprias vidas e nas de outros. E isto torna todo o trabalho compensador.

Nós, pastores, queremos ver resultados duradouros em nosso ministério. Há várias pessoas em nossas igrejas que realmente desejam ser melhores discípulos. Muitos de nós sentem-se culpados e frustrados pela distância que há entre o que sabemos que Deus deseja que façamos e o que realmente estamos fazendo. Tanto nós quanto os outros membros de nossas igrejas não precisamos de muitas informações sobre como melhor realizar nossas tarefas; podemos até ouvir, mas não colocaremos em prática, o que acarretará um aumento de nosso sentimento de culpa e frustração. Precisamos de líderes que nos ajudem a praticar de forma duradoura, todo o conhecimento já adquirido - o que nos fará continuar crescendo e fazendo discípulos pelo resto de nossas vidas.



rci//rv

Um comentário:

  1. Aparentemente, e cada vez maior as desistencias das pessoas ao conhecimento, o ser humano e motivado por pessoas o ambiente e a emoção. Isso acaba logo quando nos deparamos com o cansaço e o famoso sacrificio vindo com o decorrer do tempo. Logo no inicio, no meu primeiro amor eu só queria Jesus, lembro que alguns dos ministros da minha igreja pedia para que se alguém tivesse infermo ou algo do tipo fosse a frente, é eu não estava doente , porem eu ia. Só queria Jesus não ligando para as promessas para se importando com o amor que eu acabara de conhecer.
    Hoje depois de conquista o que sempre desejei materialmete falando, eu me deparei com uma ausencia de esta presente nas reuniões e vazia, Deus ele me fez entender que tudo que tenho ou que irei ter , não e pelo que sou, e sim porque eu o busquei e todas as coisas veio dele.
    Conheci algumas religioes que testaram minha fé, porem tentei defende-la com tudo que eu tinha mesmo sendo pouco, conheci uma felicidade patetica como diz, Clarice Lispector com seu texto pertencer, que relata ser como você ter um presente embrulhado e não ter pra quem entregar
    Talvez, eu precisa-se errar para que agora eu com toda certeza possa gritar, que o meu bem mais valioso e estar na presença de Deus e ser titulada filha do Deus altissimo
    Conhecendo outras religioes e culturas, reconheço a necessidade da palavra, desse dominio porque sei do poder e dos beneficios que isso pode trazer em algumas ocasioes, como no evangelismo por onde passo. Mas aprendi que o seu testemunho ele e o maior evangelismo, e a prova viva do poder de Deus. Facamos a diferença entao.
    hoje quero sem duvida me submeter ao aprendizado ao discipulado, por amor a Deus e ao meu proximo.

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