sexta-feira, 7 de outubro de 2011

É POSSÍVEL CONVIVER COM UM LOBO?
 


"No capítulo 7 da epístola aos Romanos, encontramos o grito desesperado de um homem que não conseguia viver à altura dos princípios que conhecia. Por vezes sentia como que se dentro dele existissem duas pessoas que lutavam entre si para assumir o controle de sua vida. Em repetidas ocasiões ele pensou que talvez não estivesse convertido.
Vem então a pergunta: Por que depois da conversão temos a impressão de que a luta espiritual aumenta? Por que pessoas convertidas, sentem vontade de praticar o mal? É possível harmonizar o que sabemos que devemos fazer com aquilo que realmente desejamos praticar?
Veja o drama de Paulo descrito na carta que escreveu aos Romanos: "Porque o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum: e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7:15-24)
- Pastor, eu acho que não estou convertido. Constantemente sinto vontade de pecar. A minha vida é um permanente conflito. Quero servir a Jesus, mas ao mesmo tempo sinto vontade de fazer coisas erradas. Tem solução para mim?
A pergunta veio de um rapaz simples de 20 anos, lá do sertão de Pernambuco, embora pudesse ter saído dos lábios de um empresário bem-sucedido dirigindo seu carro importado, último modelo, na Avenida Paulista. O problema é o mesmo para homens e mulheres, jovens e adultos, ricos e pobres.
Por alguma razão, temos a idéia de que no momento da conversão a nossa luta acaba e que a partir desse momento não pecaremos mais; seremos perfeitos, no sentido de ser exemplo de vida para outros. Mas por que é que a partir do momento que nos entregamos a Cristo a nossa luta se torna maior e o conflito aumenta?
Antes de mais nada temos que entender o que acontece no momento da conversão. Muitos têm a idéia de que na hora da conversão Deus tira de nós a natureza pecaminosa e a joga fora para sempre, colocando em substituição a nova natureza que gosta de obedecer e amar. Isto não é completamente verdade. Seria maravilhoso se fosse assim, já que nunca mais teríamos vontade de pecar. A fonte da "concupiscência e das paixões deste mundo" não existiria mais. Em conseqüência, nossa vida seria como a de Adão e Eva antes da queda.
Infelizmente não é assim que sucedem as coisas. Ao converter-nos, Deus coloca dentro de nós uma nova natureza, a natureza de Cristo. Mas o que acontece com a velha natureza pecaminosa, a natureza de lobo? Ela não sai, como muitos imaginam. Ela fica ali, agonizante. - Aquela parte que existe dentro de nós que gosta de pecar, foi esmagada e mortalmente ferida - afirma o apóstolo.
E agora? Agora, depois da conversão passamos a ser pessoas com duas naturezas: a natureza de Cristo, nova, recém-implantada e a velha natureza pecaminosa, "esmagada e mortalmente ferida" que continua dentro de nós.
O ideal seria que a velha natureza permanecesse sempre "mortalmente ferida". Mas essa situação não é definitiva; é circunstancial. Na primeira oportunidade que receber alimento, ela ressuscitará; e se continuar sendo alimentada, ela recuperará completamente as forças e lutará para expulsar de nossa vida a nova natureza.
É por isso que depois da conversão a luta aumenta. Existe muito mais conflito num homem depois de sua conversão do que antes dela. Você está surpreso? Tente entender o que estou dizendo. Depois de aceitar a Jesus você pode esperar maior luta em seu coração, um conflito interno, que muitas vezes o levará ao desespero, se você não parar a fim de entender o problema.
Mas o assunto é simples. O homem sem Cristo tem uma só natureza, a natureza com que nasceu e essa natureza faz as coisas erradas na hora que deseja. Não existe ninguém para se opor. Não existe luta, não há conflito. Mas você agora entregou sua vida a Cristo, você experimentou o milagre da conversão, você tem agora uma nova natureza e ela se opõe à velha natureza.
Você entende por que a vida do homem inconverso pode parecer mais leve? Ele só tem uma natureza e ela assume o controle da vida, não tem oposição. Mas logo depois da conversão, quando o homem pensa que a velha natureza foi embora, descobre que ela continua dentro e o conflito começa. Ele tem duas naturezas e as duas estão lutando.
O apóstolo Paulo teve um momento em sua vida em que chegou à beira da loucura! Vamos ler novamente o que ele diz na sua carta aos cristãos de Roma: "Porque o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço" (Romanos 7:15).
- Isto mostra que de fato já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim... eu sei que é isto que acontece comigo... dentro de mim - disse Paulo - sei que gosto da Lei de Deus, mas vejo uma lei diferente que age em meu corpo, uma lei que luta contra aquela que minha mente aprova.
Entende, meu amigo? Duas naturezas, duas forças lutando dentro do apóstolo Paulo. Um conflito que o levou ao desespero, porque no verso seguinte ele clama: "Miserável homem que sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Romanos 7:24)
- Que situação terrível esta em que estou! Quem é que me livrará da minha escravidão a esta mortífera natureza interior?
Agora eu pergunto: no momento em que Paulo escreveu a carta aos Romanos ele estava ou não convertido? Claro que estava. Ele tinha sido convertido quando se encontrou com Jesus lá na estrada de Damasco. Porém, aqui está a experiência de um homem convertido sentindo dentro de si o conflito que produz a luta das duas naturezas.
Não se preocupe meu amigo por causa da tensão e do conflito que você sente após sua conversão. Duas naturezas, entende? Duas. Você e eu somos homens com duas naturezas e elas não gostam uma da outra.
O apóstolo Paulo um dia conseguiu entender este conflito e aí ele escreveu: "Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o espírito para as coisas do espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Romanos 8:5-9).
- Pastor - você dirá - quer dizer que toda minha vida vai ser uma vida de conflito?
Não necessariamente, não precisa ser assim; e isso vai depender de sua decisão. As duas naturezas estão em luta mas, finalmente, uma delas vencerá. Uma delas assumirá o controle completo de sua vida. Uma delas sobreviverá e a outra morrerá. Qual delas será a vitoriosa? Isso também vai depender de sua decisão.
Vamos ilustrar o assunto desta maneira. Suponhamos que na arena de um circo estão soltas duas feras envolvidas numa luta de morte. Os empresários do circo pegam as duas feras e as colocam em jaulas separadas. Uma delas é fartamente alimentada. Recebe comida e água em abundância. A outra é deixada no esquecimento quase total. Vez por outra alguém dá para ela apenas um bocado de alimento, o suficiente para não morrer. Quando o momento do confronto chegar, qual delas vencerá? Você tem alguma dúvida? Você sabe que vai vencer a que for melhor alimentada, não sabe?
É isso o que acontece na luta das naturezas por obter o controle da nossa vida. Só uma delas assumirá finalmente, por completo, o domínio do território e sem dúvida será a que for melhor alimentada.
Ocorre que os seres humanos, geralmente, alimentam mais a natureza pecaminosa e esta é a causa de nosso fracasso constante, mesmo depois de nossa entrega a Cristo. Deus realizou em nós o milagre da conversão, implantou em nosso coração a nova natureza, mas nós não cuidamos dela, não a alimentamos e em conseqüência a velha natureza está sempre tomando o controle de nossa vida.
Como é que se alimentam as naturezas? Através dos cinco sentidos. Tudo o que entra em nossa mente através dos sentidos é alimento para uma ou para outra natureza. Especialmente aquilo que vem através da visão e da audição. Este é o motivo porque precisamos ser cuidadosos na escolha dos programas que assistimos, dos filmes que vemos, das revistas e livros que lemos, das conversas das quais participamos e das músicas que ouvimos.
É verdade que enquanto estivermos neste mundo, mesmo sem querer, estaremos sempre filtrando comida para a natureza má. Não posso evitar ouvir uma música que inspire sentimentos negativos enquanto estou num ônibus ou no local de trabalho, por força das circunstâncias. Não posso também evitar que apareça uma imagem negativa enquanto leio ou assisto ao noticiário. É impossível deixar de ouvir conversas pouco edificantes na escola ou na rua. Mas posso evitar colocar voluntariamente esse tipo de "alimento" em minha mente. É inevitável que vez por outra passem "migalhas" para a natureza má. Posso evitar que entre para ela "filé mignon". Posso evitar alimentá-la consciente e voluntariamente.
Na realidade a nossa vitória e em conseqüência, a nossa felicidade na vida cristã, dependem de certo modo de aprendermos a conviver com ambas as naturezas. De que maneira? Alimentando a natureza de Cristo e matando de fome a outra. É isso que São Paulo diz quando afirma: "E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências" (Gálatas 5:24).
Nos tempos de Cristo, quando um homem era crucificado, era declarado legalmente executado e morto, mas na realidade continuava vivo na cruz, sofrendo e agonizando. Às vezes os parentes ou amigos vinham à noite escondidos e resgatavam o corpo do executado, cuidavam dele e o homem tornava a viver e muitas vezes voltava à sua vida de delinqüência e crime.
O que São Paulo está querendo dizer é que temos que manter nossa velha natureza pregada na cruz. Não podemos deixar que ela desça e muito menos devemos cuidar dela ou alimentá-la. - Bem, pastor - você dirá - até quando terei de conviver com essa luta das naturezas?
Enquanto estivermos neste mundo, não há modo de nos livrarmos dela completamente, embora possamos tornar a luta mais leve, deixando de alimentar a natureza má. Podemos manter a natureza má "mortalmente ferida e agonizante", mas jogá-la fora de nosso ser, não é possível.
Mas, graças a Deus, existe uma promessa maravilhosa. O apóstolo São Paulo diz: "Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória (I Coríntios 15:51-54).
Isto não é maravilhoso? Um novo corpo. Sem natureza pecaminosa. Finalmente Deus arrancará a velha natureza de nós e a jogará fora, para sempre. Aí sim, não haverá mais luta, mais conflito interior, mais vontade de pecar. Tornaremos a ser homens com uma só natureza, a natureza de Cristo, perfeita e que se deleita em amar, obedecer e andar nos caminhos de Deus. Enquanto esse dia não chegar, vamos aprender a conviver com a velha natureza, matando-a de fome, desnutrindo-a, asfixiando-a e alimentando constantemente a nova natureza.
Esse foi o segredo que o apostólo Paulo descobriu um dia, alguns anos depois, quando escreveu aos Filipenses dizendo: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai" (Filipenses 4:8).
Ele está falando do alimento da nova natureza, você percebe? Ele tinha descoberto finalmente o segredo da vida vitoriosa. Ele não alimentava mais a velha natureza. A natureza de Cristo tinha assumido agora o controle de sua vida: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim" (Gálatas 2:20).
A medida que os anos passaram, a natureza velha de São Paulo ficou cada vez mais fraca, de tal modo que quando chegou o momento de sua morte ele exclamou: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda" (II Timóteo 4:7 e 8).
Ah! meu querido amigo como é bom ver o final da vida de São Paulo!
- Venci - diz ele - consegui, alcancei.
Emociono-me ao pensar em tais palavras. Sabe por quê? Porque isso quer dizer que eu também posso vencer. Também posso ser um vitorioso. É isso mesmo meu amigo. Você e eu também podemos ser vencedores.
Cristo garantiu a nossa vitória na cruz. Ele está bem pertinho de você nas horas de luta. Nos momentos em que você acha que todo mundo o abandonou, que você nunca conseguirá, que você é um fracasso completo. Lembre-se de que Ele está aí, amando-o, perdoando-o, sustentando-o.
Conheci José Luís em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Tinha sido engenheiro de vôo, falava quatro línguas e possuía uma cultura extraordinária. Pertencia a uma notável família da sociedade daquele lugar, mas acabou se envolvendo com drogas. Abandonou o emprego, a família, virou um trapo humano, dormindo nos sepulcros do cemitério.
Foi ali que o Evangelho o alcançou. De repente ele viu um raio de esperança. Talvez Jesus pudesse fazer algo para tirá-lo daquela desesperadora situação. Ele ergueu os olhos em direção à cruz e clamou por socorro e o Senhor Jesus correu ao seu encontro.
Quando o conheci, estava numa escola de recuperação para drogados.
- Pastor - ele me disse - preciso agarrar-me cada dia a Jesus. Eu o busco cada manhã em oração. Coloco em minha mente o alimento necessário para minha nova natureza e tenho certeza que Jesus finalmente me dará a vitória completa.
Hoje, José Luís está completamente reintegrado à sua família e à vida profissional e continua colocando, cada dia em sua vida, o alimento necessário para manter viva e robusta a natureza de Cristo.
Essa pode ser sua experiência. Deus o ajudará a manter cada dia viva a natureza de Jesus.

                               RCI//RV//preapa

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